Em artigo publicado neste final de semana na CartaCapital, Guilherme Boulos alerta para os perigos de subestimar Jair Bolsonaro, um adversário perigoso e que conseguiu construir uma sólida e coesa base social de apoio a seus ideais de extrema-direita no Brasil.
“Bolsonaro está ferido, mas não é cachorro morto. A esquerda e o campo democrático cometeram o erro de subestimá-lo uma vez e hoje ele está no Palácio do Planalto. Bolsonaro é um adversário perigoso e assim deve ser tratado”, ressalta Boulos.
“Seu piso eleitoral dificilmente cairá abaixo de 20%, uma vez que conseguiu organizar uma base social e ideológica de grande coesão. Ele nunca desceu do palanque e o mesmo discurso extremista que afastou setores mais moderados uniu como nunca toda a sorte de armamentistas, intolerantes, racistas incomodados com o ganho de espaço social pelos negros, machistas, tipos que se queixam de não poderem mais fazer piadas sobre gays, enfim, deu voz ao caldo reacionário que sempre existiu na sociedade brasileira. Infelizmente, não são poucos com essas inclinações”, analisa.
Pensando nas eleições de 2022, o cenário mais provável, avalia Boulos, é a derrota de Jair Bolsonaro após sua condução desastrosa da pandemia no país, com mais de 600 mil mortes, desemprego e inflação em alta e o Brasil de volta ao Mapa da Fome e com milhares de pessoas na fila para comprar osso.
“Este cenário de horrores levou Bolsonaro aos piores índices de popularidade e longe da vitória em todos os cenários nas pesquisas eleitorais para 2022”, apontou. “A derrota de Bolsonaro é hoje a maior tendência, principalmente após a retomada dos direitos políticos de Lula, grande favorito para a sucessão, com a interrupção dos arbítrios de Sergio Moro pelo Supremo. Mas prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”, alerta.
Bolsonaro deve tentar, desde já, buscar retomar sua popularidade entre o povo mais sofrido, justamente aqueles que padecem os efeitos da política econômica cruel de seu governo, principalmente se conseguir colocar em prática seu “Renda Brasil”, uma espécie de Bolsa Família turbinado.
“É claro que isso depende de conseguir conter a devastadora inflação de alimentos e combustíveis que drena a renda popular. Se o aumento de preços seguir descontrolado, o Renda Brasil terá seus efeitos inevitavelmente mitigados”, pontua Boulos.
“É evidente que o antipetismo não terá mais o mesmo efeito que teve em 2018, estimulado pela Lava Jato e pela prisão de Lula. Hoje, após três anos de catástrofe, o antibolsonarismo é o fenômeno mais forte na sociedade. Mas não se deve subestimar o papel do discurso dominante, repetido vezes a fio na mídia e nos canais de comunicação do submundo bolsonarista”, analisa o pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL.
“Por fim, embora hoje muito improvável, não é totalmente descartado que Bolsonaro, diante de uma derrota iminente, busque um acordo ‘com o Supremo, com tudo’, para não sair candidato em troca de imunidade para si e seus filhos. Neste caso, abriria espaço para uma candidatura da direita, ou mesmo da extrema-direita, que não carregasse a sua rejeição”, conclui Boulos.

