
Em seu artigo nesta semana na Folha de S. Paulo, Guilherme Boulos trata de mais um tema central da vida em tempos de pandemia: o dilema entre o retorno às aulas presenciais e a defesa da vida e do isolamento social para combater a contaminação pela Covid-19. “Educação e vida não podem estar em trincheiras opostas”, resume bem.
Guilherme Boulos conta o caso de uma amiga, Raisa, que é profissional de saúde, ativista e ajudou a criar o Zap da Saúde, serviço voluntário que dá orientações sobre a Covid-19 em comunidades, e que perdeu a mãe, dona Roseane, que era professora da rede pública em São Paulo e havia retornado à escola com a volta às aulas presenciais. Em poucos dias se contaminou e contaminou o pai de Raisa. Os dois faleceram na “carnificina de março”, como Boulos define.
A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado) identificou 2.347 pessoas contaminadas, 1.071 escolas com foco de contágio e 60 mortes entre profissionais e alunos após o retorno às aulas no estado. Nesses números não estão os casos de transmissão familiar.
“Como professor e pai de duas crianças, acompanho diariamente as dificuldades do ensino à distância. Vi minhas filhas retrocederem na habilidade de leitura e em operações matemáticas em 2020, por mais que eu e a Natália estejamos atentos a isso”, relata Guilherme Boulos.
“Mas uma coisa é certa: a solução não é arriscar a vida de professores, alunos e familiares, no pico da pandemia, com uma volta às aulas insegura”, conclui em seguida.
“A tragédia familiar da minha amiga Raisa é devastadora e simbólica. Educação e vida não podem estar em trincheiras opostas”, conclui.


