Em seu artigo semanal na Folha de S. Paulo, Guilherme Boulos tratou da recém entrada do ex-juiz Sérgio Moro e do agora ex-procurador Deltan Dallagnol na política partidária. “A rigor, já estavam nela mesmo de toga e foram peças-chave para decidir a última eleição presidencial. Agora pretendem atuar como candidatos”, já parte de princípio o artigo.
Essa última movimentação explicita algo que já era sabido por muitos: a Operação Lava Jato foi conduzida por um projeto de poder. “Quando o Supremo anulou as condenações de Lula e apontou a suspeição de Moro na condução dos processos, reconheceu institucionalmente a parcialidade do ex-juiz. A parceria Moro/Dallagnol foi decisiva para derrubar Dilma, tirar Lula das eleições e, consequentemente, eleger Bolsonaro, de quem Moro tornou-se ministro da Justiça”, avalia Boulos.
Moro e Dallagnol instrumentalizaram o justo e necessário combate à corrução para construir seus projetos de poder político. “As práticas ilícitas, a seletividade e a espetacularização midiática da Lava Jato deixavam claro que o objetivo não era a moralidade pública, mas o poder. Os heróis da República de Curitiba queriam mesmo era chegar ao Palácio do Planalto. Como o atalho no ministério de Bolsonaro não funcionou, agora tentam fazê-lo sem mediações”, explica o militante do PSOL e do MTST.
Guilherme Boulos avalia também o momento da decisão da dupla de entrar no terreno da política partidária. “Parte do establishment brasileiro busca desesperadamente uma terceira via à direita. Sonham com um Bolsonaro civilizado, que não cause tantos embaraços e constrangimentos. Querem o mesmo projeto de desmonte neoliberal do Estado, mas com outro comandante”, diz.
Boulos termina avaliando as importantes lições que o Brasil precisa tirar dessa trama arquitetada por Moro e Dallagnol. “Primeiro, que o combate à corrupção é coisa muito séria para ficar refém de oportunistas com projetos de heroísmo pessoal. Segundo, que não existe saída fora da política, feita nas eleições e nas ruas”, conclui.

