Em seu artigo nesta semana na Folha de S. Paulo, Guilherme Boulos celebra o centenário do nascimento do Patrono da Educação Brasileira, o educador Paulo Freire. Ele relembra experiências que teve como professor utilizando o método freireano de alfabetização e educação.
“Íamos em grupo para a sala improvisada no quintal da casa de uma líder comunitária. Nos primeiros encontros apareciam duas ou três pessoas, mas aos poucos a comunidade foi acreditando no projeto”, relata Boulos sobre a experiência aos 17 anos de idade.
“No começo, os educandos acharam um pouco estranho um curso onde os professores se juntavam a eles para que falassem de suas vidas —de onde vêm as palavras geradoras. Explicamos que tal jeito de ensinar era de um pernambucano chamado Paulo Freire. A turma foi se envolvendo, conversando com vizinhos e dali a pouco não havia espaço no quintal”, continua.
“Ver aquelas pessoas não só descobrindo o mundo encantador das palavras mas aprendendo a ler seu próprio mundo de outra forma foi uma das experiências mais emocionantes que vivi. Novos horizontes se abriam a partir de suas histórias de vida, fazendo a humilhação dar lugar à autoestima; a submissão, ao pensamento crítico. Naquele quintal decidi que seria professor”, conta.
Ao dar seu relato pessoal, Guilherme Boulos celebra o legado de Paulo Freire, que, ao contrário do vociferado pela horda bolsonarista, é bem pouco utilizado no modelo de educação brasileiro, que tira autonomia de professores e alunos no que Freire chamava de “educação bancária”.
“Não é difícil entender por que Freire desperta ódio e, sobretudo, medo em quem quer um povo calado. Sua pedagogia valoriza a experiência dos que sempre foram pisoteados. Recupera o saber onde a sociedade só vê ignorância. Dá protagonismo a quem foi treinado a só obedecer. Revela que nenhuma opressão é natural e que nada é impossível de mudar. É uma educação para a liberdade”, explica.
“Seu método dialógico mostra que ninguém é detentor do saber absoluto. O educador aprende ao ensinar e o educando ensina ao aprender. A educação é um ato de amor, porque envolve troca. Isso é uma punhalada na lógica de uma sociedade que naturaliza a desigualdade e a opressão”, continua antes de terminar com um chamado por “esperançar”.
“Além de uma pedagogia revolucionária, reconhecida em todo o mundo, Paulo Freire nos legou um verbo: esperançar. Dizia que a esperança de que precisamos não vem de “esperar”, passivo e quieto. Vem de “esperançar”, daqueles que sonham com um mundo melhor e agem para que se realize. O Brasil, mais que nunca, precisa esperançar. Precisa de Paulo Freire”, finaliza.

