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Juliano Medeiros | A oposição nos cem primeiros dias de Bolsonaro

Originalmente publicada em Folha de S.Paulo.

Como já se tornou tradição no mundo político, os primeiros cem dias de um governo servem para promover um balanço das ações da nova gestão e avaliar a popularidade do presidente, governador ou prefeito.

No caso de Jair Bolsonaro (PSL), a avaliação dos primeiros cem dias chega acompanhada da troca do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, por Abraham Weintraub, e da nova pesquisa Datafolharevelando que o governo é o pior avaliado nos primeiros cem dias desde que a medição começou a ser realizada, com Fernando Collor de Mello.

Estamos diante de um governo acossado pelo escândalo do “laranjal do PSL”, agressivo com imprensa e opositores, carente de base de apoio no Congresso Nacional e perdido ante o desafio de administrar a complexa máquina do Executivo Federal.

As principais iniciativas do governo _o pacote do ministro Sérgio Moro e a reforma da Previdência_ estão longe de ser medidas populares e encontram-se praticamente paralisadas na Câmara dos Deputados. Os primeiros cem dias de Bolsonaro, portanto, são frustrantes para seus eleitores e mostram que o governo não tem rumo.

Mas e a oposição? Durante semanas a imprensa abordou o que se via como uma “divisão das esquerdas”. As diferentes táticas na disputa da presidência da Câmara dos Deputados e as trocas de farpas públicas entre lideranças da oposição reforçaram, certamente, a impressão de divisão. Mas bastou o governo Bolsonaro enviar suas primeiras medidas ao Congresso Nacional para que o senso de responsabilidade falasse mais alto.

Em menos de uma semana três iniciativas mostraram a capacidade de articulação das legendas de oposição. Uma reunião com os presidentes dos partidos sinalizou a disposição de recompor a unidade, fragilizada após a eleição para a presidência da Câmara.

Na semana seguinte, um encontro com as bancadas de diversos partidos fechou posição sobre a reforma da Previdência de Bolsonaro, alcançando mais de 140 votos contra a proposta.

No dia seguinte, uma reunião entre lideranças políticas de diferentes partidos _Fernando Haddad (PT), Flávio Dino (PC do B), Ricardo Coutinho (PSB) e Guilherme Boulos e Sônia Guajajara (PSOL)_ divulgou uma declaração em defesa da democracia, dos direitos e contra a proposta do governo de reforma da Previdência.

No último dia 22 de março, um primeiro dia de mobilizações, demonstrou que a unidade pode ir muito além dos partidos e das bancadas parlamentares. Em centenas de cidades brasileiras os movimentos sociais e as centrais sindicais promoveram protestos contra a proposta de reforma da Previdência de Bolsonaro.

A data completou uma sequência de importantes mobilizações, que começou com o Dia Internacional de Luta das Mulheres (8 de março) e teve continuidade com as manifestações pela passagem do primeiro ano do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes (14 de março).

Nesses cem dias avançamos na unidade da oposição. Mas é preciso ir além, garantindo espaços permanentes de diálogo. Evidentemente, as diferenças entre as esquerdas continuarão existindo. E é bom que assim seja.

Mas é preciso colocar em primeiro plano a necessária defesa dos direitos. Longe de antecipar o debate eleitoral de 2020, esse esforço é fundamental para construir saídas comuns, caso a crise do governo se aprofunde e sejamos convocados a apontar uma saída para o Brasil.

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