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Márcia Kambeba: A Natureza é um sujeito!


Por Comunicação da Setorial Nacional de Mulheres do PSOL
Entrevistamos Márcia Wayna Kambeba, gestora da Ouvidoria Geral de Belém (PA) e primeira indígena a ocupar um cargo no primeiro escalão na Prefeitura da capital paraense.
Marcia Kambeba, geógrafa, poeta, ativista, mãe, recentemente aprovada em primeiro lugar no doutorado em Letras na UFPA, é a primeira indígena a ocupar um cargo no primeiro escalão da Prefeitura de Belém (PA). Nasceu e viveu até os 8 anos em uma aldeia Ticuna, especializou-se em estudos relacionados a sua etnia e vem enfrentando os desafios da política institucional à frente da Ouvidoria Geral do Município. 
Em 2020, se candidatou pela primeira vez a vereadora da Câmara de Belém pelo PSOL-PA em 2020, Márcia contou com 1.618 votos e sentiu na pele um outro lado do jogo político.
Márcia fala dos desafios e lutas das mulheres indígenas, sobre ocupar um espaço na prefeitura de Belém e de um país governado por Bolsonaro em plena pandemia.
M: A gente ainda tem que desconstruir na cabeça do brasileiro que o voto é moeda de troca. Quando entrei na ouvidoria recebi críticas porque não distribui cargos para quem tinha votado em mim.
Há pouco mais de 100 dias ocupando o cargo de Ouvidora Geral da Gestão de Edmilson Rodrigues (PSOL), ela descreve o cenário em que pegou a pasta.
M: A gente pegou a cidade quebrada. A gestão do Edmilson era muito esperada. Era como se a cidade fosse um navio afundando e as pessoas estivessem à espera de uma boia de salvação. Ouço isso trabalhando na ouvidoria.
A importância de uma capital ser governada por uma gestão de esquerda é destacada ao frisar a formação da equipe técnica à frente da prefeitura.
M: Em algum momento essa presença teria de acontecer. Só de indígenas são 18. Ele [Edmilson] pluralizou a prefeitura. Vejo com muito bons olhos de renovação essa gestão. Quando você tem um pertencimento com o lugar, você quer mudar aquele lugar. E o Edmilson tem esse pertencimento.
Marca na gestão da capital paraense, a composição das chefias das secretarias possui paridade de gênero, além de incluir a representatividade racial e LGBTQIA+ entre seus titulares.
Ao traçar um panorama geral sobre a participação indígena na política institucional, Marcia reconhece as políticas de ações afirmativas, como as cotas para candidaturas indígenas na distribuição do fundo partidário, proposto pelo PSOL nas últimas eleições, mas aponta que avanços são necessários para que essas políticas atendam ao máximo de candidatos.
M: A gente já faz política quando luta por acesso à educação, quando luta pela nossa terra. Belém antes de ser Belém era Mairi, um grande território Tupinambá, Belém não se vê indígena. Cadê os nossos indígenas? Cadê os espaços? Estamos lutando para construir estes espaços. Quando o assunto é as questões indígenas no cenário do atual governo Bolsonaro, Marcia soma-se ao coro “É um governo genocida!”.
Kambema ainda aponta os erros da gestão Bolsonaro ao lidar com a pandemia da Covid-19, que vem sendo devastadora dentro das comunidades indígenas. 
M: Mesmo com a vacinação a gente tem registrado muitas mortes. Temos feito barreiras de contenção, evitando sair das aldeias, evitando aglomerações. A covid vem devastando inclusive grandes lideranças, perdas importantes para o fortalecimento de muitas comunidades.
Além das ineficazes políticas de combate à pandemia, a geógrafa destaca também o modo como o governo atual tem tocado suas políticas ambientais. 
M: O governo Bolsonaro é um governo genocida para o Brasil, para o meio ambiente, e não só nos territórios indígenas não. Os povos da floresta também são os quilombolas, os ribeirinhos. A natureza também é um sujeito!
Sobre os desafios da luta das mulheres indígenas, Márcia compartilha sua perspectiva ancestral.
M: A forma como o movimento feminista se apresenta para sociedade não indígena não se pode querer aplicar dentro de uma aldeia, é uma outra perspectiva de mundo.  As mulheres indígenas se enxergam em suas identidades, em minhas andanças por algumas aldeias, eu pude ver elas se veem guerreiras.
Dentro das comunidades, Márcia compartilha que mulheres têm ocupado posições de protagonistas.
M: Nós temos mulheres caciques, mulheres à frente de diversos campos, na arte, na política.  Nós estamos inseridas em uma outra lógica de tempo. 
E embora reconheça estas posições de destaque, desabafa que o preconceito institucional, e a falta de recursos para ingresso e permanência na universidade ainda tem sido um grande desafio diante da luta das mulheres indígenas.
M: As pessoas ainda não entendem essa questão entre o ser indígena e a relação com a cidade. Nós temos o direito à cidade. É preciso entender o bem viver pela perspectiva dos povos indígenas, a questão da memória, identidade, cultura e ancestralidade.
Educadora e escritora de 4 livros, Marcia reafirma sua posição diante de uma sociedade na qual busca a transformação.
M: Eu ainda acredito na educação como ferramenta de transformação. Acredito na literatura como ferramenta de informação. Acredito no informar para decolonizar. Essa é uma das minhas lutas!

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