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Brasil precisa de uma esquerda renovada e combativa, nas lutas e nas urnas

 

Em resolução de balanço do processo eleitoral de 2020, a Executiva Nacional do PSOL reafirmou, nesta quinta-feira (10), o papel do partido na reorganização da esquerda, com combatividade nas lutas e nas urnas.

O texto afirma, ainda, que a eleição deste ano mostra o novo momento da conjuntura política pelo qual o Brasil passa, com a derrota do bolsonarismo, o fortalecimento da direita tradicional liberal e, por outro lado, também do PSOL no campo da esquerda.

Leia a resolução completa:

1. As eleições municipais de 2020 mostram um novo momento na conjuntura política, com uma inflexão em relação ao cenário de 2018. Bolsonaro e a extrema-direita foram derrotados. Mas a direita tradicional liberal e seus partidos, grandes derrotados das eleições presidenciais, ganharam terreno. No campo da esquerda e da oposição a Bolsonaro, o PSOL saiu fortalecido como partido que melhor capitaliza politicamente o desejo de renovação na política em geral e na esquerda em particular. Em meio a uma brutal crise sanitária, econômica, social e ambiental que marca o ano de 2020, este cenário e o resultado das eleições dão pistas para um 2021 turbulento, dramático para a vida do povo, aberto a lutas sociais e onde o nosso partido terá a enorme responsabilidade de colaborar na mobilização em defesa da vida e dos bens comuns da natureza, do emprego, do direito à saúde, em oposição frontal ao bolsonarismo e à agenda liberal.

2. O ano de 2020 é um ano excepcional. Ano marcado por uma pandemia, que em nosso país encontrou um governo de extrema-direita e negacionista. Governo que buscou, no primeiro semestre, afrontar abertamente a democracia. Mas o extremismo bolsonarista, que não encontrou maioria na sociedade e nem nas instituições, nas redes sociais ou na imprensa, foi derrotado na sua ofensiva autoritária. A covardia da direita liberal e do presidente da Câmara dos Deputados impediu que qualquer pedido de impeachment fosse aceito – em que pese a pilha de crimes de responsabilidade – e abreviasse o sofrimento que estava por vir.

3. A manutenção de Bolsonaro agravou sobremaneira a crise sanitária, social, econômica e ambiental. O presidente genocida conseguiu, por uma período, surfar na onda do auxílio emergencial (contra o qual ele se posicionou desde o princípio) e buscou ligar-se ao “Centrão” para sobreviver e conseguir uma base parlamentar estável.

4. A derrota de Trump nas eleições dos EUA e o isolamento do projeto autoritário de Bolsonaro aumenta o isolamento político da extrema-direita em todo o continente, que já vinha numa curva ascendente das forças antineoliberais com a vitória nas eleições bolivianas, o resultado do Plebiscito constituinte chileno, as greves e mobilizações na Colômbia e no Peru.

5. As eleições ocorrem, portanto, num contexto de aumento do sofrimento do povo brasileiro, mas de mudança no cenário internacional em favor de posições antineoliberais. Ao invés de terem, como centro, a agenda da corrupção e dos valores morais, como em 2018, o pleito deste ano, devido ao enfrentamento a Bolsonaro, teve um sentido de totalidade, por esse motivo a campanha foi nacionalizada e colocou, no centro dos debates, a pandemia, o financiamento dos serviços públicos, o combate ao desemprego, a volta às aulas com segurança e a necessidade de enfrentar a recessão. Neste contexto, a esquerda pode voltar a colocar suas ideias e propostas no debate de rumos do país.

6. Sob este cenário, a popularidade de Bolsonaro foi caindo na maioria das capitais e grandes cidades, e suas principais candidaturas foram derrotadas. Os grandes partidos da direita (DEM, PSD, PSDB, MDB, PP), ainda que com perdas pontuais, foram os que mais se beneficiaram do fiasco do bolsonarismo e sua fragmentação no processo eleitoral. No entanto, sabe-se que este bloco continuará sendo aliado de Bolsonaro na implementação da agenda neoliberal de privatizações e nos ataques aos direitos da classe trabalhadora, do funcionalismo público, entre outros. A esquerda e a oposição a Bolsonaro recolocaram-se no cenário político, mas ainda não conseguiram capitalizar eleitoralmente esse desgaste do governo.

7. No âmbito da esquerda, coube ao nosso partido ocupar um lugar de excepcional destaque, credenciando-se para disputar os rumos de um novo projeto de país e de uma nova hegemonia para a esquerda brasileira. Sem deixar de buscar a unidade na oposição – como a obtida já no primeiro turno em Belém, Florianópolis, Recife, Rio Branco, Macapá, dentre outras; ou no exemplo de São Paulo no segundo turno, bem como no apoio do PSOL no 2º turno onde isto se fazia necessário, como em Porto Alegre, Fortaleza, Vitória – nosso partido saiu como principal protagonismo do processo de renovação na esquerda.

8. A ida de Guilherme Boulos ao 2º turno na maior cidade do país, a vitória de Edmilson Rodrigues em Belém, o crescimento da bancada legislativa com a eleição de dezenas de jovens, mulheres, negras e negros, mulheres trans, trabalhadores e trabalhadoras, mandatos coletivos, são os principais traços desta vitória política e eleitoral que vai credenciando o PSOL como uma referência para uma esquerda combativa, radical e renovada no país.

9. A campanha de Guilherme Boulos em São Paulo, em aliança com PCB e a UP, expressou o acerto de uma política há anos perseguida pelo partido: a da ampliação do PSOL na relação com os movimentos sociais, na aliança com o MTST já constituída nas eleições de 2018, a da localização como oposição frontal ao bolsonarismo e à direita liberal herdeira do golpe de 2016, consolidando-se como principal referência de esquerda na maior cidade do país, na busca de uma unidade de ação no campo da oposição.

10. A campanha de São Paulo, que teve como eixo as demandas da periferia da cidade, a eleição de inúmeras candidaturas da negritude no bojo da luta antirracista, a vitória de Edmilson nas regiões periféricas da capital paraense, entre inúmeros outros exemplos, colocam em questão um avanço do PSOL na sua inserção na periferia, junto às camadas mais pobres da população, mais precarizadas, em especial na juventude, na negritude, nas mulheres trabalhadoras, vítimas principais do desastre social e humanitário que se agrava no país com a pandemia. A inserção periférica e popular será um dos principais desafios do nosso partido na direção da sua consolidação como nova alternativa popular e de massas.

11. A vitória em Belém merece também especial destaque por ser expressão de uma resistência unitária, numa importante capital do país. Trata-se de uma vitória com repercussão mundial, por se tratar de um governo municipal que fará um contraponto à lógica ecocida do Governo Bolsonaro e seus repetidos ataques contra a Amazônia. Será um desafio que deverá demandar toda nossa atenção, pois estamos diante da oportunidade de apresentar uma vitrine para o país no combate à desigualdade, na defesa do meio ambiente e da Amazônia, na gestão participativa e democrática, fazendo de Belém a capital da resistência e da esperança. Com a vitória de Edmilson, o PSOL também conquistou um outro feito inédito: com a posse da companheira Vivi Reis, atual suplente de Edmilson, o PSOL será primeiro partido do Brasil a ter uma bancada com mais mulheres do que homens no parlamento nacional, além de aumentar a representatividade LGBTQIA+ da nossa bancada federal.

12. Cabe destacar que as campanhas do partido nacionalmente contribuíram para afirmar o PSOL, apresentá-lo em melhores condições onde não foi possível chegar ao segundo turno. Cabe destacar inúmeras campanhas majoritárias do partido em capitais, que mesmo em condições mais adversas, fortaleceram o perfil e programa do PSOL e foram decisivas para a eleição expressiva de vereadores e vereadoras, como os casos de Rio de Janeiro, Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Vitória, Macapá, Natal, Aracaju e Salvador. Além disso, saudamos os prefeitos eleitos em cidades do interior, como Potengi (CE), Marabá Paulista (SP), Janduís (RN) e Ribas do Rio Pardo (MS). Estas também serão experiências de inversão de prioridades e combate às desigualdades.

13. Passadas as eleições, o PSOL mira os desafios da conjuntura de 2021. Ano que poderá ser marcado por enorme turbulência social e política. Aqui entra o desgoverno pós-eleição: não existe política econômica alguma de reconstrução em meio à pandemia, só a cantilena liberal das privatizações com o fim do auxílio emergencial. Inexiste planejamento e infraestrutura para a imunização da população quando a vacina chegar, a destruição ambiental vai continuar avolumando graves consequências climáticas e nas condições de vida do povo (acesso à água, doenças respiratórias, “apagões”, entre outras). Será preciso buscar as condições para uma retomada da mobilização social, para que os mais pobres não sejam os mais penalizados.

14. Retomaremos a bandeira do #ForaBolsonaro diante da catástrofe que se avizinha, porque não é possível o país esperar pelas eleições de 2022, enquanto o desgoverno genocida empurra o povo para o abismo da fome e da morte. Ao lado deste eixo, devemos levantar uma plataforma de emergência para já e para 2021: temas como a defesa de um auxílio emergencial cidadão enquanto durar a pandemia; investimentos maciços no SUS, imunização gratuita para toda a população, criação de frentes de trabalho emergenciais para combater o desemprego, investimentos do estado em saneamento com criação de empregos, combate à destruição ambiental, dentre outros.

15. Para o PSOL, será a partir da unidade prática, em torno das demandas populares mais urgentes e da apresentação de um projeto para o Brasil, que poderemos construir condições para uma necessária unidade da oposição e da esquerda para a conquista dessa plataforma emergencial e em 2022, contra Bolsonaro e a agenda liberal da direita. Estaremos ao lado dos movimentos sociais, da classe trabalhadora e de todos os seus novos atores sociais. As eleições municipais mostraram o caminho: o Brasil precisa de uma esquerda renovada e combativa, nas lutas e nas urnas.

Executiva Nacional do PSOL
Dezembro de 2020

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