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Guilherme Boulos: “é o movimento social forte que permite enfrentar as desigualdades do capitalismo”

O novo líder da bancada do PSOL na Câmara para este ano de 2023, Guilherme Boulos, concedeu uma entrevista à Jacobin Brasil, uma das principais publicações progressistas do país, em que reflete sobre as estratégias para o socialismo no século XXI e os desafios do novo período no Brasil. Você pode ler a entrevista na íntegra clicando aqui. Abaixo reproduzimos alguns dos principais trechos.

Ao analisar a hegemonia neoliberal nas últimas décadas, Guilherme Boulos relembra como o capitalismo falha diariamente em garantir dignidade e oportunidades para todos e como essas falhas ficaram ainda mais evidentes durante a pandemia.

“Os limites e o fracasso do capitalismo mais uma vez estiveram em evidência durante a pandemia. Se não fossem os sistemas públicos de saúde, o que seria do planeta? Não é um acaso que o país capitalista mais rico do mundo tenha sido o lugar onde mais morreu gente por covid, porque justamente ali você não tem uma conquista importante, como nós tivemos no Brasil ou no Reino Unido, que é o sistema universal de saúde. Essas conquistas estavam ligadas ao que se chamou de Estado de bem-estar social e foi resultado da luta socialista ao longo de quase dois séculos”, avalia Boulos.

O deputado federal acredita que a luta anticapitalista precisa combinar a luta institucional com a luta de massas. A disputa institucional, para ele, não pode ser um fim em si mesmo.

“Enxergo que a luta anticapitalista hoje passa necessariamente por uma uma estratégia combinada: uma estratégia institucional articulada à luta de massas. […] O caminho para uma transformação social mais profunda, estrutural, passa por combinar a ação institucional, a disputa dos espaços do Estado e da política, das políticas públicas do Estado, do orçamento público, com ações de organização popular e de mobilização na luta territorial para fomentar as formas de organização coletiva, as redes solidárias e de apoio mútuo que sejam capazes de sustentar e impulsionar avanços institucionais”, explica o parlamentar.

Guilherme Boulos também falou sobre a importância de uma sinergia cada vez maior entre partidos políticos e movimentos sociais, no modelo que vem ficando conhecido como “partido-movimento”.

“Sou muito simpático ao conceito de ‘partido movimento’: uma organização política partidária, mas fluida, menos centralizada, mais aberta à influência das forças vivas da sociedade e com uma relação de complementação com os movimentos sociais. […] Penso que cada vez mais vamos precisar nos aproximar dessas formas híbridas, em que o partido é a expressão política do movimento social e em que o movimento social constrói os seus espaços de representação por meio dos partidos”, acredita.

Ao ser questionado sobre sua visão das experiências socialistas do século XX, o parlamentar reforça a importância de analisá-las conforme seus contextos históricos e condições materiais em que ocorreram, mas que o Brasil não pode se apegar a experiências passadas para construir o seu caminho para o socialismo.

“No Brasil precisamos construir o nosso próprio caminho democrático ao socialismo, a partir da nossa diversidade, da nossa história, aprendendo com outras experiências, mas sem copiar modelos”, resume o deputado mais votado do estado de São Paulo.

O deputado também falou sobre a importância de pautas que hoje têm mais destaque e que não tinham muito destaque nas experiências do século passado, como a ambiental e o combate às opressões.

“Um tema estava totalmente fora da agenda das experiências do século XX: o tema ambiental. É impensável hoje falarmos de socialismo sem falar num outro modelo de desenvolvimento. […] Se tivéssemos que resumir a luta socialista em um mote, seria o enfrentamento à desigualdade social. Mas as desigualdades e as disfunções do capitalismo hoje não se resumem a desigualdade econômica. A desigualdade social é multifacetada, envolve uma complexidade de fatores e experiências, como o processo de lutas antirracistas que estamos vendo ao redor do mundo e o surgimento de potentes movimentos feministas contra a lógica do patriarcado”, avalia Boulos.

Ao analisar os governos progressistas da América Latina no início do século XXI, Guilherme Boulos aponta os limites e equívocos que vê como importantes de serem corrigidos agora que novos governos progressistas e populares surgem na região.

“Se quisermos tirar lições sobre esses limites, ou apontar esses limites, destacaria principalmente três: primeiro, o descuido em não apostar tão intensamente em formas de poder popular, formas de participação popular direta que aprofundassem a democracia. […] Um segundo ponto é que faltou disputa cultural e disputa de valores. Pepe Mujica disse isso muito bem: ‘nós formamos bons consumidores, mas não formamos cidadãos’. Foi o que no Brasil permitiu o avanço da extrema direita. [ …] E o terceiro ponto é que houve muitos limites no enfrentamento do conflito distributivo. Esses governos tiveram uma característica de fazer políticas sociais extremamente importantes, mas principalmente de manejo orçamentário e com isso não se tocou, por exemplo, em temas como reformas mais estruturantes, tal como a reforma tributária, que enfrentem mais frontalmente a desigualdade”, enumera.

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