Segundo a reportagem, o objetivo do acordo era por fim aos ataques da facção criminosa, em maio de 2006. O governo de São Paulo sempre negou que houve acordo com Marcola. A reportagem do jornal não cita, no entanto, que após o acordo, o secretário Furukawa, mais moderado, foi demitido, e Saulo, com uma postura mais radical, adquiriu mais poder, como relatou o jornalista Luís Nassif.
As Mães de Maio denunciam que a partir do dia 15 daquele mês, a Polícia Militar saiu às ruas das periferias de São Paulo e da Baixada Santista e cometeram os 505 assassinatos em poucos dias. A maioria das vítimas eram jovens negros e pobres, entre eles, uma adolescente que daria à luz no dia seguinte à sua morte.
“Ao meio dia houve toque de recolher da polícia, que considerava quem estivesse na rua como inimigo. Esse depoimento está nos autos dos processos. Cancelaram as linhas telefônicas e começaram os ataques. Mataram meu filho, mataram famílias inteiras, mataram mulheres, moças”, diz Debora. “Vimos essa reportagem hoje e não entendemos o porquê foi publicada agora, inclusive em um jornal que não cobriu nada na época”.
De acordo com Nassif, homens encapuzados, em motos, saíram pelas ruas alvejando as pessoas. Em seguida, chegavam viaturas da PM para destruir as provas. Os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) e, na sua maioria, os laudos foram inconclusivos. A matança reduziu quando procuradores federais e médicos do Conselho Regional de Medicina foram ao IML para acompanhar a elaboração dos laudos.
O Ministério Público Estadual, a Justiça de São Paulo e a grande imprensa do estado pouco investigaram o ocorrido. Sem continuidade no processo, o Movimento Mães de Maio conseguiu enviar as investigações para Brasília, federalizando a apuração. O Procurador Geral Rodrigo Janot, no entanto, não deu continuidade ao caso.
“Saulo de Castro Abreu nunca foi investigado. Hoje ele é secretário (de Governo de Alckmin). Precisa ser investigado”, reivindica a militante do Mães de Maio. “Há omissão, hoje, até do governo federal. Estamos pedindo uma agenda com a presidenta Dilma Rousseff há mais de dois anos e ela nunca nos recebeu. O único convite foi após as Jornadas de Junho de 2013, mas negamos, porque queremos que a pauta seja o massacre.”
Matéria original publicada no site da Rede Brasil Atual.