Dono de 13 medalhas olímpicas e 19 pan-americanas de natação, Clodoaldo Silva, 38, filiou-se ao partido em março deste ano, pelo PSOL Carioca. O atleta paralímpico foi recebido no Rio de Janeiro no início deste mês (05/10) em um evento em homenagem à sua filiação, com a presença dos deputados estaduais Eliomar Coelho e Marcelo Freixo, que lhe deram as boas-vindas ao partido.
Clodoaldo sofreu uma paralisia cerebral durante o parto, decorrente da falta de oxigenação, o que afetou os movimentos de suas pernas. A natação veio como tratamento, e acabou se tornando profissão. Depois de 15 anos de carreira e muitas premiações, foi ele quem acendeu a tocha olímpica nas Paralimpíadas Rio 2016.
Em entrevista à nossa equipe de Comunicação, o atleta afirmou que a escolha pelo PSOL se deu por causa do programa voltado a pessoas com deficiência. “O que me fez filiar ao PSOL foi o projeto de acessibilidade e de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e no esporte”, avalia.
https://www.facebook.com/psol50oficial/posts/774246182737018
Confira a entrevista completa:
O que te motivou a entrar pro PSOL?
Desde 2004, quando houve as paralimpíadas de Atenas, o Brasil conseguiu 14 medalhas de ouro. Só dali eu saí com seis ouros e uma prata, e fiquei bastante conhecido. Com isso, recebi vários convites, principalmente da política, mas apenas para me candidatar e servir de cabo eleitoral de um ou outro candidato. Eu nunca aceitei isso, nunca fiz campanhas políticas para ninguém. Mas o tempo foi passando e começamos a ver as dificuldades que o Brasil começou a entrar, principalmente na questão de corrupção. Depois de toda essa roubalheira, essa sujeirada toda que nós estamos vendo, recebi esse convite do PSOL. Embora eu estivesse e esteja muito desiludido com a política, eu esperei o momento para analisar quais eram as diretrizes do partido, como funcionava a militância e, principalmente, levei em consideração que o partido não tem ninguém envolvido na Lava-Jato, não tem ninguém nessa questão de corrupção. Então, me reuni com o Marcelo Freixo e, para minha surpresa, ele me apresentou um projeto voltado para pessoas com deficiência, diferentemente de outros partidos, que queriam apenas ter o nome Clodoaldo Silva estampado na lista de filiações. O que me fez filiar ao PSOL foi o projeto de acessibilidade e de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e no esporte.
Você sempre foi próximo da política?
Sempre fui uma pessoa que gostava de se relacionar com questões políticas e em benefício da sociedade. Na escola, eu era líder de classe, a voz para poder reivindicar qualquer que fosse a pauta. Eu fui crescendo dessa forma, com a responsabilidade de ser porta-voz; você acaba fazendo política com isso. Entrando no esporte, comecei a ter grande destaque e grandes resultados, sendo recebido por prefeitos, governadores e até presidentes da República, me aproximando um pouco mais desse mundo.
Quais os caminhos que você enxerga na esquerda dentro da atual conjuntura?
Eu acho que chegou a hora de o Brasil mudar. Faz um tempo que estamos vivendo esse momento dificílimo, com partidos políticos de direita mandando e desmandando no país, e nós vimos que isso não dá certo. Então por que não dar chances e oportunidades para um partido de esquerda, que esteja tentando um projeto inovador? Precisamos apostar em partidos coerentes e que não se envolvam em esquemas de roubo e corrupção. Esse realmente é o momento para fortalecer a luta.
Como foi o evento de filiação no Rio de Janeiro, no dia 5 de outubro?
O evento foi uma filiação simbólica, para dar conhecimento a todos da minha intenção de poder fazer parte desse grupo político, o qual acredito muito. Foi algo bem legal, porque esteve presente o Marcelo Freixo, pessoa que estava lá na minha primeira visita ao partido, no momento da minha filiação. Houve um debate também com o Eliomar Coelho, que me deu as boas-vindas e falou sobre o momento atual do Brasil, justo no dia em que o presidente do Comitê Olímpico brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, estava sendo preso. Foi um momento bem mágico para todo o esporte, principalmente a mim, que fui nadador. Falei da minha felicidade de poder estar ali, de poder contribuir, e também que me filiar ao PSOL não significa que vou ser candidato, mas que estarei junto com todos os filiados do partido. O PSOL tem uma galera jovem e dedicada a buscar melhorias para um Brasil melhor, e principalmente para pessoas com deficiência. Aqui o debate sobre acessibilidade ainda é muito pouco, e isso é algo para se preocupar.
Qual relação podemos fazer entre o esporte e a política, enquanto agentes na construção de um mundo mais justo?
Tem tudo a ver. O atleta treina, se dedica e compete para poder chegar no lugar mais alto do pódio sim, mas principalmente para poder representar o Brasil e ter orgulho daquele momento. A política também deveria ser dessa forma. O político está nas instituições para poder representar pessoas que o elegeram para estar lá, buscando fazer o seu melhor em relação à sociedade e ajudar o Brasil. Os atletas, principalmente hoje, se dedicam muito para representar muito bem o Brasil, mas tem sido muito difícil pela situação do nosso país, com toda essa sujeira, todo esse mando e desmando, todas as malas de dinheiro. Queremos que as pessoas tenham orgulho dos nossos representantes, seja no esporte ou na política.
Como você pretende pautar a questão de pessoas com deficiência dentro do partido?
O primeiro passo foi a filiação, agora é participar de encontros, reuniões e seminários com a militância e com as comunidades para depois chegar nos órgãos maiores da política e realmente mostrar a cara. A partir do momento que você mostra cara, que você se torna visível às pessoas e principalmente aos governantes, eles nos veem e percebem nossas pautas. A gente precisa colaborar na acessibilidade e na inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho e no esporte, então esse vai ser o trabalho daqui para frente.